sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ora, bolas!

E lá veio a bola de novo.
-Moço, moço! Pode pegar a bola? Os cachorros enlouquecidos ladram seus pulmões afora. Nada que se mova em volta da casa escapa a reclamação dos dois.
Levanto, deixo palavras ao meio, esperando na tela do meu computador e lá vou eu lá fora, resgatar a bola mais uma vez.
Que pena eu tenho desta bola. Toda gasta, pedaço do couro pendurado, desafia todo dia um estouro nos pés dos guris que na rua a maltrata com seus chutes imprecisos.
Pego a bola e jogo sobre o muro alto, aparentemente não o bastante para conter o petardo.
-Obrigado moço! Obrigado! ...brigadu! As várias vozes agradecem o retorno da bola ao seu jogo.
Eu me lembro, era garoto, jogava bola na rua. Duas camisas, duas latas, dois tijolos, o que se pudessem botar as mãos, serviam pra marcar os gols. Times divididos, nem lembro como distinguia quem era de que lado. Sei que dava certo. A gente jogava, driblava, passava a bola para o companheiro e se a sorte sorrisse, fazia um gol. Que beleza, era partir para o abraço.
As coisas são diferentes hoje em dia, todos só querem chutar. É bicuda pra todo lado. Do lado de cá do muro só vejo a bola subir em trajetórias cada vez mais ameaçadoras ao espaço aéreo sobre minha casa. E não demora muito, lá vem ela novamente pro lado de cá.
-Drogas, esta quase me quebrou um vaso, reclamo.
São essas considerações que me aborrecem. Nada tenho quanto às crianças brincando, mas acho que desaprenderam a alegria de driblar. Apenas disputam quem vai pegar a bola e saia uma canela da frente, lá vai bicuda e bola pro espaço.
Pego a bola novamente e devolvo, agora com uma reclamação.
-Vê se param de jogar a bola para o alto! Reclamo em alta voz. -Vocês estão jogando futebol ou vôlei?
-Desculpa moço! Não vai cair mais. Desculpa moço, foi sem querer! Esta foi boa, ainda bem, se fosse de propósito como seria?
Volto para a porta de entrada, ainda rindo da frase que escutei.
Pam! Um chute forte ecoa do outro lado do muro.
Não demorou muito e sinto a pancada na cabeça. Assusto-me e olho em volta e lá está ela, rolando no chão para um canto ao lado do vaso que há pouco tentou quebrar, a bendita bola.
Será que foi sem querer? Começo a ter minhas dúvidas quando ouço no meio dos “Shiii, ferrou”! Aquela vozinha dizendo: – Desculpa moço, foi mal!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pássaro ferido

Eu sou o pássaro ferido que você pegou no chão,
Aquele que você cuidou e deu a mão,
Agora curado estou, preso nesta gaiola,
Meu canto é triste porque minha alma chora.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Só quero ouvir tua voz

Mais uma vez me ligas e não dizes nada. Tentando conter a respiração inconstante, agitada pela emoção de ouvir a minha voz. Parece loucura, insanidade. Sabes que sei que és tu calada. Sabes que me enlouqueço com essas chamadas. Que aumenta em mim a raiva de ti. Não te importa que já me percas, nada mais te interessa a não ser ouvir a minha voz, mesmo que seja para te jurar do ódio que fazes nascer em mim.