sexta-feira, 30 de julho de 2010

Pra lá de onde as nuvens vão ...

O sol da manhã entra pela porta semiaberta quebrando a penumbra da sala, o convidando a sair.
Dia morno já cedo, promessa de calor pela tarde. Dia lindo. O sol banha a paisagem generosamente. Os pássaros vão esvoaçando nos seus afazeres do dia a dia. Mais um dia normal de trabalho para eles. Muitas tarefas a cumprir, ninhos a manter, pequenas bocas querendo ser alimentadas, piando incessantemente.
O velho homem senta-se a uma cadeira, já gasta pelo tempo, perto de uma cerca junto ao portão. A parreira vingou e suas folhas se espalham pelo cercado formando uma parede verde, ele observa. “Preciso fazer um caramanchão com ela”; pensou ele; “Logo vai querer dar frutos”.
O céu azul, limpo, fora umas pequenas nuvens brancas, desgarradas, indo com o vento, que sopra suave, levando-as “pra lá de não se sabe onde”. Talvez pra perto das terras que chamaram seus filhos. Lembra-se dos dias que partiram, um a um, conforme foram crescendo e alimentando ideias de aventuras para suas vidas.
Ele mesmo, velho aventureiro do mundo, agora cansado e aposentado das andanças terra afora, compreendia a razão de terem ido embora. Está no sangue. O mesmo impulso que um dia o fez sair mundo afora, conhecendo lugares interessantes, gente diferente da gente de onde ele nasceu.
Que bom conhecer tudo aquilo, todo este povo diverso espalhado “pra lá de onde as nuvens vão”. Ele conhece tudo e muita gente. Quem olha não repara naquele homem cansado, naqueles olhos miúdos, a visão de um mundo enorme que ele correu e conquistou.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Fotos dos anos 70

 
Hoje alguém me fez chorar, não de tristeza, mas de saudades. Foi por causa de um vídeo sobre fotos dos anos 70, no qual eu vou mais longe e lembro as dos 60. Todas juntas me correm pela memória como o rush de uma dose nunca tomada e apertam meu coração.
Não gosto de viver de memórias, das lembranças passadas, muitas podem doer. Mas todas tem um tom de liberdade que o tempo e a idade levaram.
Chorei, gostei de ter chorado. Muitas lembranças boas vieram do passado. Eu estava precisando, como um analgésico para uma dor. Algo dentro de mim ainda vive, longe deste mundo parado onde me encontro. Está vivo, lá no passado, numa vida veloz como o vento, que vivida foi, intensa e desenfreada, que eu guardo eternamente no coletivo do que aprendi.

Ref. (http://www.youtube.com/watch?v=Fncs-i2dmvk&NR=1)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Crise


 

- Estou tendo uma crise de identidade.
- Como assim?
- É, estou tendo uma crise de identidade!
- Como? O que houve? Mudou tendência, virou gay?
-Não, não! Não nesse sentido. Mas que coisa, afinal e se fosse, qual seria o problema? Isso não é mais tabu.
- Sei lá, você que me diga.
-Não, já disse! Não se trata disso. É do coração.
- Você sofre do coração. Que houve? Foi ao médico? Quanto tempo te resta.
-Para! Porque agora acha que vou morrer?
- Eu não acho nada, você foi quem falou do coração, falou em crise, pensei num enfarte. Desculpe!
-Está bem. Mas como eu dizia, me sinto numa crise.
-Não vou falar mais nada.
-Acho bom se não daqui a pouco eu enfarto de verdade. Não se pode nem desabafar o coração!
- É falta de ar?
- NÂO! Já disse!
- Desculpe novamente. Apenas me importo por você. Amigo é para estes momentos.
- Não tem momento. Apenas uma crise de identidade e agora uma frustração profunda por não poder me expressar.
- Ta, ta, fala logo.
- Êta!
- Então?
- É que sinto falta de amor, se amo, não sou amado, se sou amado, não amo. Os sentimentos não encaixam na hora certa.
- Deixa-me entender, você quer amar, mas não ama e é amado e quando ama não é, acertei?
- Desta vez acertou.
- Esta incerteza vem do que? É aí que aquele papo de tendência entra?
- Olha, eu vou te bater! Já falei que não é nada disso.
- Não, não estou sugerindo nada, apenas seguindo o raciocínio.
- Logo, logo você vai seguir seus dentes se não parar de gracinha.
- Você disse gracinh... Ai! – porque você me bateu?
- Te avisei!
- Eu não disse nada demais, apenas gracinh... Ai! – Pô! De novo? Tá, tá, não falo mais nada.
- Acho bom! Respeita o sentimento dos outros.
- Claro que respeito! E as tendências também... Ai, ai! Para! Saiu sem querer, Não quer dizer nada.
- Viu? Este é o problema das pessoas hoje em dia, muito preconceituosas. Eu abro meus sentimentos a você e a conversa vai pro lado errado.
- De que lado você queria que foss... Ai, meu olho! Ai! Quebrou meu dente! Isso não é amizade. Está estressado? Você tem é tendência criminosa. Quem vai te amar assim? Ai! ... ai! ... PARA!  SOCORRO! ELE ENLOUQUECEU!  ... Ai! Ai! ... Minha canela... Tirem-me daqui, não consigo andar! ... Acho que quebrei a perna... Ai! ... Ai!