segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Julia - 3ª Parte

Decisões.

Os Hamptons estavam vazios. Não havia muita gente na área, somente os habitantes regulares daquele balneário de luxo. A elite da sociedade de New York e as celebridades só apareciam no verão ou em algum esporádico evento em algum dos exclusivos clubes sociais da região. Estava tudo quieto e tranquilo.
Ela não conseguia parar de pensar sobre o dia em que encontrou o rapaz no metro e terminou indo à sua casa. Foi tudo muito rápido e louco e deixou uma forte impressão nela.
Eles pertenciam a mundos diferentes, mas mesmo assim não conseguia se desvencilhar dos sentimentos que ficavam trazendo-o de volta a seus pensamentos. De alguma forma ela precisava vê-lo novamente.
Semanas se passaram. Logo seria Thanksgiving (dia de ação de graças) e algumas famílias viriam aos Hamptons para celebrar em grande estilo em suas mansões.
Ela não queria ver nenhum deles.
Na semana antes do Thanksgiving, ela soube que Lauren Harben estava na cidade e imaginou que logo seu marido apareceria também. Ela não o tinha visto desde aquela noite no Plaza.
As ações da companhia estavam se desvalorizando por causa desta crise e havia uma tremenda pressão vinda dos acionistas minoritários e sua família para que ela chegasse a um acordo que viesse a normalizar a situação. Ela não sabia o que decidir. Era impossível olhar no rosto dele após tudo que havia acontecido. Alem do mais, eles não iam parar, apenas continuariam por trás das cortinas.
Ela chamou seu chofer e disse que ele se preparasse para voltarem para a cidade. Parou em sua casa, pegou algumas roupas e itens que poderia precisar e seguiram para o Plaza.
Ela não conseguia parar de pensar no que havia acontecido naquele trem. Sua ousadia, indo à casa de uma pessoa completamente estranha tinha sido a melhor experiência de sua vida. Sem ser guiada por alguém, ou instruída no que fazer, ela estava por conta de suas próprias decisões, seus sentimentos a levavam e ela tinha adorado cada momento. Marcara um ponto de mudança em sua vida, ela pensava. E ela queria mais.
Na terça feira já havia decidido o que fazer. Seria mais ousado que da última vez e ela tinha que fazer, ou morreria por dentro.
Na quarta feira de manhã ela deu uma lista de compras para seu chofer e o enviou ao Zabar’s para comprar queijos, pães, salmão defumado, peito de peru defumado, uma variedade de geleias, foie gras, alguns vinhos para acompanhar a comida, alguns pratos, copos, talheres e uma cesta de palha italiana para acomodar tudo. Seria um grande pick-nick.
Ela ligou para a portaria e pediu que o almoço fosse servido no quarto, colocou umas roupas em uma bolsa e quando seu chofer chegou, o instruiu a colocar sua bolsa e a cesta no carro. Tomou um banho, vestiu um jeans azul claro, bem confortável, uma blusa de flanela listrada e um casaco de inverno e desceu para o carro.
Ela pediu ao chofer que a levasse à 3ª Avenida com a Rua 94 e chegando ao endereço dispensou o motorista com instruções de não informar onde ela estava. Ele era um empregado leal e discreto, mais uma boa herança do seu pai.
Ela tocou a campainha algumas vezes sem obter resposta e sentou-se ao degrau da entrada do prédio, para esperá-lo. Ela nunca tinha feito algo assim por ninguém. Seu destino ditou o caminho.
O tempo foi passando, ela se divertindo vendo gente passar, olhando para ela e sentiu o sabor da liberdade, nada a segurando.
Estava começando a escurecer quando ela o viu dobrar a esquina. Ela se levantou rápido, alegre e sorridente.
Assim que ele percebeu a sua presença, começou a correr e lhe deu um abraço e a segurou em seus braços por uns momentos.
-Eu pensei que nunca mais iria vê-la. Estou tão feliz em você estar aqui!
-Eu também. Estou aqui para celebrar o Thanksgiving com você.
-Mas Thanksgiving é amanhã, ele disse inocentemente.
-E daí? Você quer que eu volte amanhã? Ela brincou.
-Não! Estou muito feliz por você estar aqui, apenas surpreso. Hoje é meu aniversário e não poderia receber presente melhor do que ter você aqui, ele completou.
-Ah! Mas isso é formidável. Teremos uma celebração dupla então, ela falou em um tom de alegria.
-Claro, vamos subir, e dizendo isso, pegou a cesta, abriu a porta do prédio e seguiu para as escadas, ela o seguiu, com sua bolsa de roupas nas mãos.
Ao entrar no apartamento, ele colocou a cesta em cima da mesa e seguiram para o quarto da frente.
Não estava tão arrumado como da última vez, ela notou.
-Desculpe pela desordem, mas acordei atrasado hoje e não deu tempo de arrumar a cama, ele disse.
-Não se preocupe, está tudo bem, mas deixe-me te dar um abraço pelo seu aniversário, ela disse, o abraçando e beijando seu rosto, como da outra vez.
-Feliz Aniversário... E parou, percebendo que não sabia o nome dele.
-William, é William, respondeu da mesma forma que ela tinha feito da outra vez.
-Que nome lindo. Feliz aniversário, William, quantos anos?
-Vinte e sete anos, Julia, ele informou. E ficaram ali, olhando um para o outro, por algum tempo.
-Há alguma coisa na cesta que precise ser guardado na geladeira? Ele perguntou.
-Não, nada com que se preocupar por agora, ela respondeu.
-Sinta-se à vontade, disse acenando para o ambiente. Preciso tomar um banho, trabalhei o dia inteiro dentro do laboratório e me sinto impregnado pelo cheiro dos produtos químicos que usamos.
-Sim, sim, ela disse.
Ele pegou uma toalha e uma muda de roupas do gaveteiro perto da cama e seguiu para o banheiro.
Ela se sentia bem, em paz. Havia algo nele que transmitia aquela sensação para ela. Olhou em volta, notou que a outra janela, agora tinha plantas, bonitas que adicionavam tranquilidade ao ambiente.
Ela ouviu o barulho da água caindo no chuveiro e concluiu que ele começara a tomar seu banho.
Ela se levantou, despiu-se e foi em direção ao banheiro.
Ela queria que esse feriado fosse inesquecível.
Ela abriu a porta do banheiro e entrou.


Continua...